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Congresso em Foco repercute “Reis Pacheco”

O site Congresso em Foco, do portal UOL, usou o famoso ‘Caso Reis Pacheco’, ocorrido no Maranhão em 1994, como exemplo de fake news nas eleições. Primeiro registro que se tem na história brasileira de notícias falsas que beneficiaram um candidato – no caso a ex-governadora Roseana Sarney –, a situação ocorrida na época é hoje modelo de um problema grave enfrentado em 2018.

“Caso Reis Pacheco foi uma das maiores fake news da história do país. Nossa família sofreu na pele os efeitos de uma grande armação. Como não existiam as tecnologias de hoje, o tempo se encarregou de mostrar a verdade!”, disse o deputado Rogério Cafeteira por meio das redes sociais. Ele é sobrinho do então candidato ao governo Epitácio Cafeteira, que foi prejudicado pela artimanha da família Sarney.

Veja trecho da matéria do Congresso em Foco

Corria o ano de 1994. Na eleição para decidir o governador do estado do Maranhão, o candidato Cafeteira era o principal adversário de Roseana Sarney, pertencente ao poderoso clã que até os dias atuais se reveza na política local e nacional. Roseana liderava por apenas 1% de diferença nas intenções de voto quando, no início do segundo turno, os jornais e a TV da família, afiliada da Rede Globo, começaram a divulgar que Cafeteira havia mandado matar o adversário José Raimundo dos Reis Pacheco.

Faltando dois dias para o encerramento da campanha, a equipe de Cafeteira localizou José Raimundo e gravou entrevista com ele para exibir no último programa eleitoral gratuito. Naquela noite, a imagem da TV desapareceu misteriosamente em todo o interior maranhense. Só a capital São Luís, onde vivia 1/3 do eleitorado, testemunhou a imagem do homem dado como morto, atestando, ele mesmo, que o boato de assassinato era falso. O caso foi contado pelo jornalista Palmério Dória no livro Honoráveis bandidos, lançado em 2009.

Embora tenha caído nas graças populares, a expressão fake news – em referência a notícias ou informações falsas divulgadas no intuito principal de derrubar reputações, prejudicar adversários políticos e gerar lucro ¬– não se refere a um fenômeno inaugurado com as redes sociais ou restrito ao terreno das comunicações digitais, conforme mostra o caso que abre este texto. Por isso, descolados de uma análise histórica e descontextualizados, os usos atuais do termo parecem não abarcar os limites de um fenômeno complexo ligado, por um lado, ao avanço da imprensa e da comunicação de massa e, por outro, à organização e consolidação (ou o contrário disso) dos regimes democráticos modernos.

Assim, as chamadas notícias falsas não devem ser definidas e analisadas fora do contexto político, econômico, social e tecnológico no qual estão imersas. Ao contrário, elas são elementos constituintes e constituídos pela conformação da concentração da posse dos meios de comunicação eletrônicos, impressos e digitais, pela ausência de regulação que promova a diversidade e democratização das informações e pelas dinâmicas sociais de produção e consumo de informação no âmbito das plataformas privadas de conteúdo na internet. Neste sentido, nos parece que a discussão deveria estar mais circunscrita ao guarda-chuva da produção de “desinformação”, termo, aliás, preferido por alguns especialistas mundo afora.

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