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Vaza Jato: Moro pediu manifestação do MPF e orientou contra delação de Cunha

A revista Veja divulgou nesta 6ª feira (5.jul.2019) uma nova leva de diálogos da chamada Vaza Jato. Pela nova série de conversas, Moro teria pedido à acusação da Lava Jato que incluísse provas nos processos que chegariam depois às suas mãos, mandado acelerar e retardar operações e feito pressão para que determinadas delações não fossem realizadas.

A apuração foi feita em parceria com o site The Intercept, que obteve acesso ao arquivo vazado por uma fonte mantida em sigilo. Nos chats realizados pelo aplicativo de mensagens Telegram, Moro revisou peças, combinou datas e até deu bronca nos procuradores.

ODEBRECHT: ‘QUANDO SERÁ A MANIFESTAÇÃO?’

Em 2 de fevereiro de 2016, período em que houve questionamento da Odebrecht à Justiça da Suíça pela falta de compartilhamento de dados e extratos bancários da empresa, Moro escreveu a Dallagnol (os diálogos foram transcritos exatamente como estavam no arquivo, sem correções de erros gramaticais):

“A odebrecht peticionou com aquela questao. Vou abrir prazo de tres dias para vcs se manifestarem”. Dallagnol agradeceu pelo aviso. Um dia depois, Moro voltou a questionar: “Quando sera a manifestação do mpf?”.

O procurador da Lava-Jato respondeu: “Estou redigindo, mas quero fazer bem feita, para já subsidiar os HCs [habeas corpus] que virão. Imagino que amanhã, no fim da tarde”. No dia seguinte, enviou uma nova mensagem: “Protocolamos amanha, salvo se for importante que seja hoje. Posso mandar, se preferir, versão atual por aqui, para facilitar preparo de decisão”.

Moro disse “pode ser amanha”, e recebeu em 5 de fevereiro, pelo próprio Telegram, a peça ainda não finalizada.

Segundo a reportagem, a situação foi completamente irregular. A comunicação entre juiz e procurador deveria ter sido feita de forma transparente, pelos autos dos processos, ao invés do uso do aplicativo.

REVOGAÇÃO DE BUMLAI

Uma das conversas, de 17 de dezembro de 2015, mostrou Moro pedindo a Dallagnol uma manifestação do Ministério Público Federal sobre o pedido de revogação da prisão preventiva de José Carlos Bumlai, empresário e amigo do ex-presidente Lula, até as 12h do dia seguinte.

Dallagnol respondeu pouco mais de 3 minutos depois que o pedido seria realizado. O procurador enviou ainda ao juiz exemplos de decisões de outros magistrados caso ele precisa-se “prender alguém”. Eis abaixo:

17 de dezembro de 2015 – conversa entre Dallagnol e Moro

Moro – 11:33:20 – Preciso manifestação mpf no pedido de revigacao da preventiva do bmlai ate amanhã meio dia.
Dallagnol – 11:37:00 – Ok, será feito. Seguem algumas decisões boas para mencionar quando precisar prender alguém…

DENÚNCIA DE LULA: ‘UM BOM DIA AFINAL’

Em 14 de dezembro de 2016, Dallagnol escreveu ao juiz que a denúncia de Lula seria protocolada em breve. Moro respondeu com um emoticon de felicidade, ao lado da frase: “um bom dia afinal”.

Lula foi denunciado no dia seguinte, em 15 de dezembro. Segundo o MPF, a Odebrecht teria tentado pagar propina ao ex-presidente por meio da compra de um terreno em São Paulo, destinado ao “Memorial da Democracia”, ligado ao Instituto Lula

DELAÇÃO DE CUNHA: ‘SOU CONTRA’

Em 12 de junho de 2017, o procurador da força-tarefa Ronaldo Queiroz, criou 1 grupo no Telegram com Dallagnol para avisar que a defesa do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso pela Lava Jato, o procurou para negociar uma delação premiada.

Queiroz afirmou que as revelações poderiam ser de interesse de procuradores de Curitiba, Rio de Janeiro e Natal –locais em que haviam ações relacionadas ao político. O procurador esperava que Cunha entregasse 1 terço do Ministério Público do Rio, além de juízes do Tribunal da Justiça, do Tribunal de Contas e da Assembleia Legislativa.

Na tarde de 5 de julho, os procuradores concordam em marcar uma reunião com a defesa de Cunha. No mesmo dia, Moro questionou Dallagnol sobre rumores da delação. Eis o diálogo divulgado:

Moro – Rumores de delação do Cunha… Espero que não procedam
Dallagnol – Só rumores. Não procedem. Cá entre nós, a primeira reunião com o advogado para receber anexos (nem sabemos o que virá) acontecerá na próxima terça. estaremos presentes e acompanharemos tudo. Sempre que quiser, vou te colocando a par.
Moro – Agradeço se me manter informado. Sou contra, como sabe.

O acordo foi posteriormente recusado pela procuradoria. Em 30 de julho de 2017, Queiroz afirmou que o material apresentado pela defesa era fraco. No dia seguinte, um procurador de Curitiba –provavelmente Orlando Martello Júnior– disse: “Achamos que o acordo deve ser negado de imediato”. (Poder 360)

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