Vigilância

Lula herdará “grampolândia” de Bolsonaro

Além de um tecido institucional esgarçado, Jair Bolsonaro deixará para Lula uma robusta caixa de ferramentas de inteligência invasiva. Sem a devida fiscalização do Congresso Nacional, o PT poderá utilizá-las a seu bel-prazer e, considerando seu histórico, para fins nada republicanos.

Sob Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) adquiriu, por exemplo, 10 unidades da escuta direcional Team 144-R, da empresa norueguesa Squarehead, líder mundial no segmento.

Por dispensa de licitação, a Abin pagou R$ 4,3 milhões à M1 Consultoria e Tecnologia, revendedora no Brasil. O dispositivo, portátil, possui microfone dissimulado, alcance de 500 metros e software capaz de captar e gravar áudios específicos em ambientes barulhentos, com um zoom sonoro.

Na prática, um operador do sistema poderia, de dentro de um veículo parado no estacionamento, monitorar conversas de autoridades em prédios públicos, comerciais e residenciais, apenas direcionando a antena de captura.

Todos os órgãos públicos da Praça dos Três Poderes e da Esplanada dos Ministérios estão ao alcance desses equipamentos, inclusive o Supremo Tribunal Federal (STF). 

Poucos dias antes do fim da transição de Michel Temer para Bolsonaro, mas com a anuência da nova gestão, a Abin adquiriu também 12 conjuntos de escutas miniaturas, com transmissor 4G e três conjuntos de sete câmeras espiãs, além de uma câmera termográfica.

Pelos dois conjuntos, pagou-se R$ 1,8 milhão à Convidence Brasil, filial da empresa dinamarquesa, especializada em equipamentos miniaturizados e camuflados. Diferente das escutas direcionais, essas são instaladas nos ambientes utilizados pelos alvos do monitoramento e fazem transmissão via internet móvel, de forma totalmente remota.

A câmera termográfica, capaz de enxergar corpos humanos através de paredes de concreto, foi adquirida da OKK Soluções Comerciais, por R$ 169,7 mil —os prazos constantes nos extratos dos contratos se referem a suporte técnico, treinamento e garantia.

Esses são apenas alguns exemplos, considerando o nível atual de sigilo dessas compras. A lista completa pode ser obtida oficialmente agora pelo gabinete de transição de Lula, por meio do GT de Defesa e Inteligência, coordenado por Aloizio Mercadante e integrado pelo senador Jaques Wagner (PT/BA), ambos com histórico polêmico na área.

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