
Crise e protagonismo no governo Brandão: os atores e seus interesses
Artigo de Simplicio Araújo*
O debate político atual no Maranhão tem sido conduzido de forma amadora e, por vezes, infantil. Parlamentares, prefeitos, líderes e parte da imprensa tentam inserir no centro das discussões um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), figura que, por prerrogativas de seu cargo, não pode e nem deve se envolver em disputas políticas.
Antes de aprofundar o tema, é importante apresentar os principais atores desse cenário e suas respectivas motivações. Não há indícios de uma ação coordenada em prol de um “líder supremo”; ao contrário, cada grupo busca atender seus próprios interesses, o que é legítimo, embora muitas vezes mal articulado.
O movimento de Othelino Neto
O deputado Othelino Neto, por exemplo, conseguiu impor uma derrota ao governo ao provocar o empate na eleição da Assembleia Legislativa. Agora, busca no STF uma definição sobre o regimento interno da Casa, questionando se este deve prevalecer ou ser adaptado ao regimento da Câmara dos Deputados. Trata-se de um movimento legítimo e focado no futuro político de Othelino. Contudo, ele parece falhar ao não explicitar que este é um movimento de interesse exclusivamente pessoal.
Interesses dos deputados estaduais e federais
Os deputados, por sua vez, estão preocupados com suas próprias reeleições. Enquanto alguns usufruem de emendas vultuosas, outros lidam com recursos muito menores, o que gera insatisfação e rivalidade internas. Esses parlamentares buscam reequilibrar o jogo político, algo que também é legítimo, mas que deveria ser conduzido com mais transparência e responsabilidade.
Felipe Camarão e suas aspirações
Quem pode dizer que não é legítimo o desejo do vice-governador Felipe Camarão de assumir o governo e disputar a reeleição no cargo, como fez o atual governador Carlos Brandão? A diferença é que Felipe pode ser candidato sem abdicar do cargo de vice, enquanto Brandão pode ter que enfrentar escolhas mais arriscadas.
A imprensa e seus papéis
A imprensa, um terceiro ator relevante nesse cenário, atua de forma heterogênea. Enquanto parte dela busca informar com isenção, outros veículos têm interesses alinhados a patrocinadores, futuros empregadores ou projetos políticos pessoais. Essa fragmentação leva, por vezes, a abordagens que flertam com a infantilidade, como a tentativa de colocar um ministro do STF como figura central do debate político local.
Carlos Brandão e a liturgia de Flávio Dino
O governador Carlos Brandão tem a prerrogativa de conduzir seu governo até o final do mandato, seja em abril ou dezembro de 2026. No entanto, é necessário reconhecer que qualquer gestão enfrenta oposição, legítima ou não, e deve estar juridicamente preparada para isso. Até aqui, as derrotas sofridas pelo governo resultam de movimentos isolados de partidos ou deputados, mas poderiam ter sido promovidas por qualquer eleitor comum.
Quanto a Flávio Dino, imaginar que ele possa ser explicitamente a figura central das decisões políticas do Maranhão é um equívoco, Principalmente após o embate com o congresso no caso das emendas parlamentares. Sua posição no STF o impede de participar diretamente do debate. Atribuir-lhe esse protagonismo não é apenas ingênuo, mas também arriscado, tanto para ele quanto para a condução política do estado.
O jogo político no Maranhão está nas mãos de Carlos Brandão, que precisa agir rapidamente para organizar o cenário e evitar maiores prejuízos. O tempo, no entanto, não está a favor nem dele e nem de Camarão. Caso o impasse atual persista, os efeitos poderão ser desastrosos não apenas para o estado, mas para alguns dos principais atores políticos envolvidos.
Em suma, o Maranhão enfrenta uma crise de governança que demanda maturidade, transparência e estratégia — qualidades que, infelizmente, têm se mostrado escassas no debate atual.
*Ex-Deputado Federal, Ex-Secretário de Indústria, Comércio e Energia, Analista de Sistemas e Empreendedor
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