Exploração de gás no Maranhão contrasta com pobreza, apesar de royalties
Em Santo Antônio dos Lopes, epicentro da lucrativa exploração de gás natural no Maranhão, um lixão irregular recebe resíduos hospitalares. O cenário que recebe os visitantes dá o tom das condições de vida na localidade. O tema foi destaque de uma matéria publicada pela Folha de São Paulo, nesta sexta-feira (29).
Apesar de R$ 166,7 milhões repassados à cidade desde 2013, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), 95% dos domicílios carecem de saneamento básico, segundo o IBGE. O município também é conhecido por ser o reduto político do direitista Lahesio Bonfim, ex-candidato ao governo do estado e segundo colocado na última eleição.
Para moradores ouvidos pela publicação, como Elisangela Dantas, a promessa de progresso não se concretizou. “É difícil, ainda mais pra gente, que não tem formação. Eu já fui cozinheira num restaurante que vendia comida pra eles. Foi só isso. Voltei a ser faxineira”, desabafa.
Na comunidade Nova Demanda, reassentada pela Eneva, moradores enfrentam erosões e rachaduras nas casas. Izete de Souza, ex-quebradeira de coco, relata o impacto: “Tive depressão após a mudança”.
A precariedade se repete em municípios vizinhos. Capinzal do Norte, que recebeu R$ 80 milhões em royalties, tem apenas 8% da população com acesso a água e esgoto. Em Lima Campos, com R$ 90,5 milhões repassados, a infraestrutura urbana atinge só 15% dos domicílios.
“Os indicadores sociais continuam péssimos. Existe uma elevação do PIB, mas, como diria a professora Maria da Conceição Tavares, ninguém come PIB. A gente vê que a realidade da grande maioria da população onde hoje há exploração do gás não tem mudado”, critica João Octávio, da campanha “Boas Energias: Maranhão Sem Fracking”.
A Eneva, responsável pela exploração, afirmou que cumpre suas obrigações legais e não interfere na gestão dos recursos pelos governos. Já a Prefeitura de Santo Antônio dos Lopes não respondeu aos questionamentos sobre a destinação inadequada do lixo.