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A cela e a tornozeleira moral de José Sarney

A divulgação das gravações do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que revelaram o “modus operandi” de Sarney é o capítulo final de uma trajetória que não teria outro rumo senão o julgamento da história como um dos políticos mais desprezíveis pós-ditadura. Em pleno século XXI, Sarney vai levará pela eternidade a alcunha de oligarca a cada vez que aparecer seu nome. Os fantasmas de Sarney voltaram para assombrá-lo. Termina sua vida pública com o risco de usar uma humilhante tornozeleira eletrônica. Só a idade o salva da cadeia.

Em junho de 2014, o ex-presidente José Sarney anunciava sua aposentadoria da política, não necessariamente das discussões, mas da disputa eleitoral. Sarney justificou seu afastamento dizendo que pretendia ficar mais tempo ao lado de sua mulher, Marli, que estava doente em São Luís. Malandro, sabia que o cenário político estava desfavorável e queria sair por cima. Invocando a necessidade de cuidar da mulher enferma, revogou uma de suas frases prediletas. “Em política só existe a porta de entrada”. O que ele não havia programado é que dois anos depois estaria moralmente destruído, na mira da Polícia Federal e do Ministério Público, sendo alvo principal da imprensa e humilhado em protestos.

É bem verdade que o ministro Teori Zavascki negou seu pedido de prisão, mas ainda não está descartada que utilize a tornozeleira, isso porque ele ainda é réu na Operação Lava Jato pelo recebimento de propina de empreiteiras e de R$ 18, 5 milhões de Sérgio Machado. O velho oligarca que sempre foi considerado um “mestre” da política foi picado pelo própria veneno, desmascarado por um amador com um gravador, que lhe tirou todas as informações que precisava.

Traído por aliados quando tentava utilizar sua influência, foi tratado como uma pessoa comum. Ele, que sempre sonhou com a Academia Brasileira de Letras, passou a ocupar a lista da Odebrecht, da Camargo Corrêa e de outras empreiteiras.

Em 2009, quando estourou os escândalos dos atos secretos no Senado, Sarney conseguiu se livrar do julgamento, muito pela ajuda do presidente Lula. “Sarney tem história para que não seja tratado como pessoa comum”, disse o petista na época. Hoje estão em lados opostos, mas possuem um ponto em comum: são os símbolos de uma política que o país não quer mais.

Deprimido, isolado e esquecido, Sarney aos 86 anos trocou o descanso pela preocupação. As reuniões políticas viraram conversas com advogados e os artigos peças jurídicas.

Com a autorização pelo Supremo Tribunal Federal da divulgação das gravações de Machado e da delação premiada, novos escândalos devem surgir ao longo das semanas e até o fim da Operação Lava Jato.

Como disse uma certa vez o jornalista Augusto Nunes da Revista Veja: “Quando estiverem cauterizadas as feridas morais abertas pela Era da Mediocridade, o Brasil contemplará com desconsolo e desconcerto a paisagem deste começo de século. Como foi possível suportar sem revides as bofetadas desferidas por um político sem luz, orador bisonho, poeta menor e escritor medíocre?”

O revide está vindo de uma vez só e atingindo toda a família Sarney.

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