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Acusado de dar prejuízo de meio bilhão ao MA, Trinchão ganha sinecura no governo Temer

O presidente estadual do PSD, Cláudio Trinchão, teve bons motivos para seguir a risca todos os conselhos e pedidos da direção nacional do partido. No mês passado, ele ganhou um cargo no governo federal, como assessor especial do ministro de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), com salário de R$ 11,2 mil por mês.

Acertado com o PDT nas eleições em São Luís, de última hora decidiu acatar a determinação da Executiva Nacional de se coligar com o PP de Wellington do Curso, por dois motivos; além do emprego pelas mãos do poderoso dono do PSD, Gilberto Kassab, também não obteve facilidades para se livrar dos processos que enfrenta na justiça, como ele esperava ao se juntar ao grupo do prefeito Edivaldo e do governador Flávio Dino.

Trinchão é alvo da imprensa nacional nesta quinta-feira.

De acordo com reportagem do site UOL, o maranhense é apontado pelo MP-MA (Ministério Público do Estado do Maranhão) como um dos responsáveis por uma isenção fiscal ilegal de R$ 410 milhões aos cofres do Estado durante o governador de Roseana Sarney (PMDB-MA).

 Cláudio José Trinchão foi secretário de Fazenda do Maranhão entre 2009 e 2014. Em meados de 2014, ele deixou o cargo para disputar uma vaga de deputado federal, mas não conseguiu se eleger. Em junho de 2015, ele foi nomeado diretor de programa da Secretaria-Executiva do Ministério das Cidades, à época também sob comando de Kassab. Trinchão ficou no cargo até 1º de junho de 2016, quando pediu demissão. Um mês e meio depois, ele foi nomeado como assessor especial de Kassab. Em junho de 2016, o MP-MA ingressou com uma ação civil pública contra Trinchão e seu sucessor, Akio Valente Wakiyama. A ação já foi enviada à Justiça do Maranhão, que ainda não se pronunciou sobre se irá aceitá-la ou não.

A investigação conduzida pelo MP maranhense apura a concessão de benefícios fiscais a um conjunto de pelo menos 190 empresas que atuam no Estado. A reportagem questionou, mas os nomes e os ramos de atuação das empresas que teriam se beneficiado não foram divulgados pelo órgão.

Segundo os promotores, entre 2009 e 2014, foram assinados 33 atos que concediam regimes especiais de tributação a empresas de forma irregular. Desses 33 atos, 20 foram assinados somente por Trinchão, cinco foram assinados por ele e Akio Valente e outros oito apenas por Valente.

De acordo com o MP, a soma dos benefícios concedidos por Trinchão e Valente é de aproximadamente R$ 410 milhões — ou seja, este é o valor que o Estado deixaria de receber de impostos.

A principal ilegalidade apontada pelos promotores foi à falta de publicidade em relação à concessão dos benefícios. A investigação aponta que, em alguns casos, os benefícios sequer constavam do banco de dados da Secretaria de Fazenda do Maranhão. O MP também argumenta que muitos dos benefícios concedidos por Trinchão e Valente não foram precedidos por estudos econômicos que justificassem a renúncia fiscal.

Os promotores pediram à Justiça do Maranhão a quebra dos sigilos fiscais e bancários de Trinchão e Akio Valente para investigar o eventual enriquecimento ilícito da dupla.

O MP também pediu o bloqueio de contas bancárias e a indisponibilidade dos bens de Trinchão e Akio com “o fim de recompor os prejuízos causados […] ao erário estadual” e a suspensão dos direitos políticos da dupla por até oito anos, o que, se for acatado, impediria Trinchão de atuar como assessor especial de Kassab e como dirigente partidário.

Procurado pela reportagem Cláudio José Trinchão disse que não cometeu nenhuma das supostas irregularidades apontadas pelo MP. Ele disse que, no contexto de “guerra fiscal” entre os Estados, é normal que governos concedam regimes especiais de tributação a empresas e que esses atos não sejam publicados. “Dentro desse contexto, a maioria deles (Estados), no caso de regimes especiais (de tributação) não são publicados. Porque se você publicar, o Estado vizinho vai saber a natureza do benefício que está sendo dado e isso é ruim. Os Estados não publicam”, afirmou Trinchão.

Trinchão disse não temer o pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal. “Estou absolutamente tranquilo. Logo quando eu soube, tirei meus extratos, meu imposto de renda e não vou nem esperar quebrarem o meu sigilo. Eu mesmo estou tomando a iniciativa de providenciar isso”, afirmou.

Questionado pela reportagem, o ministro Gilberto Kassab disse, por meio de nota, que a nomeação de Trinchão se deu “pela sua comprovada experiência na administração pública, pelo seu currículo acadêmico, que inclui mestrados internacionais”. A nota prossegue afirmando que “o ministério está convicto da honestidade de Trinchão e de que todas as eventuais dúvidas apontadas pelo MP serão esclarecidas e dirimidas no fórum adequado, que é o Poder Judiciário”.

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