Tokyo 2020

O Maranhão olímpico não é só Fadinha

UOL

Willliam e Genoveva pensaram muito e finalmente chegaram a uma conclusão: a melhor maneira de homenagear o filho que está em Tóquio seria pintar a frente da casa com a imagem do atleta dos 400m. Assim foi feito: e desde meio-dia desta quarta-feira (28), João Henrique Falcão corre naquela parede da Rua Oito, 1329, no Bairro do Parque Piauí.

“É isso aí, o Maranhão não tem só a Fadinha do skate de Imperatriz, tem também o João Henrique de Timon”, ensina Genoveva, que trabalhava até recentemente em um supermercado, mas foi despedida e agora trabalha como diarista.

O casal fez questão de mostrar aos vizinhos maranhenses que o filho é um atleta de alto rendimento. E nem se importaram em contratar o pintor Roberto. “Ele estava muito ocupado, mas aceitou o convite e terminou a obra antes da prova do revezamento 4x400m misto, que nosso filho vai correr em Tóquio”, explica William, que trabalha com instalação e manutenção de cercas elétricas, câmeras e portões eletrônicos, e nos tempos de juventude jogava na lateral direita do time do Roncador.

“Pagamos R$ 380, mas valeu a pena. O Roberto é um artista talentoso, e a obra ficou muito bonita”, derrete-se a mãe, que fala com o filho todo dia pelo celular, tomando cuidado para não acordá-lo. “Era para ser surpresa, mas a namorada dele já enviou a foto, e ele já viu a pintura”.

A namorada no caso é a também atleta Letícia Nonato, que nas Olimpíadas da Juventude, em Buenos Aires, brilhou ganhando a medalha de prata nos 200m.

“Era para ter três atletas de Timon nesta Olimpíada: o João Henrique, a Letícia e a Cristiane, mas a pandemia prejudicou bastante os treinamentos”, conta o técnico Nilson de Sousa, com o orgulho de descobridor de talentos. Ele é um verdadeiro garimpeiro na pista de brita do Estádio Municipal Miguel Lima, na cidade de Timon, que tem 170 mil habitantes e fica na divisa entre Maranhão e Piauí, a 5km de Teresina.

“É só atravessar o rio Parnaíba”, ensina o professor Nilson.

“Além dos três, que são atletas de grande potencial, tivemos em nossa equipe também a Joelma, que disputou os Jogos [Olímpicos] de Londres e do Rio de Janeiro, além da própria Cristiane que também correu em 2016”.

Dedicando-se à profissão de treinador desde 1993, Nilson é um desses incansáveis caça-talentos do esporte nacional. E ele projeta grandes resultados para os Jogos Olímpicos de 2024, em Paris.

“O João Henrique, por exemplo, estava sendo preparado para a Olimpíada da capital francesa, mas o adiamento dos Jogos de Tóquio propiciou um trabalho que encaixou bem e os resultados vieram mais cedo do que esperávamos. O João tem 46s26 nos 400m e ele deve melhorar ainda muito. O mesmo ocorrendo com Letícia e Cristiane.”

Vizinho de William e Genoveva, o treinador também gostou do desenho da Rua Oito e acrescenta uma outra informação que enche de vaidade os esportistas maranhenses.

“Vamos deixar claro aqui que o esporte maranhense não está em Tóquio representado só pela Fadinha e pelo João. Tem mais gente lá, o que nos enche de orgulho: tem a Ana Paula do handebol, as gêmeas Thalia e Thalita do rúgbi de sete e o cavaleiro Marlon Zanotelli.”

Mamãe Genoveva entra na conversa para dizer que na volta da Olimpíada, o filho terá uma festa tão boa como a da Fadinha em seu retorno a Imperatriz.

“Com ou sem medalha, o nosso rapazinho de 22 anos será recebido com festa aqui em Timon.”

E falando baixinho para ninguém escutar, já que não é uma comida lá muito adequada a um atleta, mamãe Genoveva deixa escapar que na recepção festiva vai ter, sim, rabada, o prato preferido do seu querido João Henrique.

Lá de Tóquio, João Henrique agradece a homenagem já feita. As eliminatórias do 4x400m misto serão disputadas nesta sexta-feira (30), a partir das 8h (de Brasília).

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