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Sarney foge da linha do tempo

Sempre que pululam assuntos de dimensões humanas palpáveis, o imortal José Sarney exercita sua astúcia política: exacerba na digressão. Assim faz mais uma vez na coluna deste sábado no jornal fundado por ele e o poeta Bandeira Tribuzi. Escreve sobre o tempo e o passado. São dois assuntos presentes em sua trajetória de vida e política.

Os dois – Sarney e Tribuzi – compraram o jornal O Dia de Alberto Aboud, misto de empresário e político, na década de 70 do século passado. Sarney entrou com o bolso, Tribuzi com a sutileza da pena. Sarney era governador do Maranhão. Tribuzi, reconhecido como intelectual da nobre linha da Athenas brasileira.

Sabia Sarney dos benefícios e malefícios que a imprensa naturalmente emana. Tinha frequentado suas entranhas, colhido ensinamentos sobre essas e outras com parceiros da noite como Lago Burnett, Odylo Costa, filho e outros tantos talentos literários.
O talento de Sarney era para oligarca. Foi este desde sempre. Se espelhou em Vitorino Freire (1908-1977) e trilhou o caminho do mestre. Combateu o vitorinismo com o punhado nas costas.

Para se cimentar como oligarca contou com o auxílio luxuoso do jornal e dos intelectuais que orbitam o poder. Nesse universo a mesura é uma regra com exceções raras. Mais tarde, o proeminente e dadivoso Sarney enredou a todos com sua rede de emissoras de rádio e televisão, moeda de troca para estender seu mandato como presidente postiço.

Agora, Sarney está na encruzilhada da vida. Chegando aos noventa anos, sua longevidade política se esgota pela reticência sobre o legado e o desgaste dos maus mandatos que alijaram o povo por anos a fio. Porém, foram as novas mídias, com seus tons de democracia, que aos poucos desmontaram a onipotência do império de comunicação construído à semelhança do romano.

Boa parte das ações do jornal O Estado do Maranhão – que remendou a história para se emplumar de tradicional – pertencem à ex-governadora Roseana Sarney. Há sócios de nuances diversas. Até o ex-ministro do Supremo Tribunal de Justiça, Edison Vidigal, está no rol. Na lista há anônimos e parceiros políticos.

Nos governos Roseana, o sistema de comunicação arquitetado por Sarney para prolongar seu domínio político sobre os maranhenses e alhures – considerando que seus tentáculos alcançaram o Piauí – alcançou os “píncaros da glória” em termos de bufunfa. Encheram a burra.

Com apenas os cofres federais, o sistema coxeia. Expostas à mídia nacional as verbas do Planalto não podem irrigar os cofres do sistema como era antes. Daí, corta-se a carte fraca, o operariado, o alvo certeiro das crises.

À população são devidos os esclarecimentos de quanto era a verba publicitária que o governo repassava para o sistema. Só assim se corrige o passado. Essa correção Sarney jamais pensa fazer em vida. Talvez, por isso mesmo é que afirma que o poeta T. S. Eliot seja inglês, mesmo sendo esse considerado o bardo americano de direita.

Levantem as vozes os sábios da terra, aqueles que repugnam os analfabetos e que não tiveram oportunidade dos bancos escolares ou bibliotecas soberbas.

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